quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Possibilidade de Engano e Apostasia do “Eleito”



Outra ameaça ao povo de Deus é a influência enganadora clamando ter o divino poder, particularmente com a segunda vinda de Cristo que está próxima. Jesus acautelou seus discípulos que “muitos” falsos profetas afirmariam ser o Cristo e qualquer crente se perderia ao segui-los. Esta urgente advertência e outras (vv. 33-37) indicam o perigo de ser engando. Não haveria nenhum ponto de advertência contra os crentes, a não ser que eles pudessem ser enganados. (dúvida nesse trecho). À luz desse perigo, duas passagens da Escritura tem especial significado.
A primeira passagem é Marcos 13:22: “Pois aparecerão falsos cristos e falsos profetas que realizarão sinais e maravilhas para, se possível, enganar os eleitos.” Cristo considera que o “eleito” (eklektoi, escolhido) pode ser enganado? Para responder essa questão, nós precisamos decidir quem são os eleitos. Somente em duas passagens do Evangelho o termo “eklektoi” aparece (Mt 22:14; Lc 18:7). No Antigo Testamento é utilizado para designar o povo de Deus (Sl 105:6, 43; Is 65: 9-10). Deus tem escolhido o povo de Israel previamente como receptor de sua salvação e para torná-los seu servo. A salvação deles, contudo, foi com a condição de que eles a recebessem a Deus e perseverassem nele. Do mesmo modo, no Novo Testamento, a escolha de Deus (eleição) envolve a resposta dos indivíduos. Seu dom salvífico nunca é independente da pessoa que o recebe[1]. Nem é o dom da salvação de natureza que o crente não possa  perdê-lo.
Não há garantia que um crente nunca irá negar o dom da salvação. Falsos profetas podem ser convincentes – “se possível” eles vai desviá-lo do caminho. As palavras “se possível” poderia não, contudo, ser interpretada significando que é impossível para um crente ser levado ao desvio do caminho. Mas Marcos 13:13 e Mateus 24:13 ensinam que somente os que perseveram continuamente podem finalmente encontrar a salvação. Alguns vão falhar em perseverar “até o fim” e esses serão “desviados do caminho”.
A segunda passagem é Lucas 18:7,8: “E Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que clamam a ele de dia e de noite, ainda que tardio para com eles? Digo-vos que, depressa, lhes fará justiça. Quando, porém, vier o Filho do Homem, porventura, achará fé na terra?”
Esses versos são a conclusão da parábola em que Jesus fala sobre a justiça de Deus, justificando e salvando seu povo. A parábola demonstra a atitude de Deus para com eles; Ele vai ouvir a oração do povo escolhido sem demora e vai trazer justiça sobre eles. Como eles clamam por Deus, Ele tem compaixão e imediatamente responde suas orações.
Mas, após Jesus ter oferecido incondicional segurança de responder suas orações, Ele acrescente uma questão: “ Contudo, quando vier o Filho do Homem, porventura, achará fé na terra?” Em outras palavras, haverá algum eleito na segunda vinda de Cristo? A dúvida aqui é levantada – não sobre a misericórdia de Deus em responder as orações, mas sobre a perseverança do povo escolhido de Deus. A possibilidade do eleito falhar no caminho fica fortemente implicada nas palavras de Jesus. De outra forma, Sua questão seria sem sentido[2]. Isso repudia a visão que ensina que o eleito “uma vez salvo, sempre salvo”.



ARRINGTON, French L.  Unconditional Eternal Security – Myth or Truth?, ed. Pathway Press, Cleveland, Tennessee, pgs. 45-47 - Tradução - Douglas Ferreira da Silva




[1] Alguns intérpretes fazem uma rigorosa distinção entre as palavras chamado (kleitoi) e escolhido (ekletoi) em Mt 22:14 “Pois muitos são chamados, mas poucos são escolhidos". A rígida distinção não deve ser feita entre as duas palavras. Há pouca ou nenhuma diferença, e tanto pode ser traduzida com o mesmo significado. The melhor forma para entender a declaração à luz da parábola que a precede (Mt 22:2-13; cf. Lc 14:15-24). Após a recusa para festa de casamento do rei por um número de pessoas o convite foi estendido para muitos. Todos que vieram não foram encontrados dignos de participar da festa. Uma dessas pessoas compareceu vestido de forma inapropriada. A ideia é que muitos têm sido convidados, mas somente alguns respondem com fé e obediência. O convite pedia uma resposta adequada a mensagem de salvação. Os “eleitos” no verso 14 são os que se apresentam “dignamente” na parábola. Interpretar tal verso como ensinando que Deus tem ordenado certo número para salvação e que somente eles [ os ordenados ] podem aceitar a mensagem do Evangelho da Salvação é um erro de hermenêutico. Também aqui não é indicado que Deus tem predestinado algumas pessoas para salvação e que eles são incapazes de desobedecer ao chamado do Evangelho. Graça irresistível não está em foco nesse verso.
[2] G. Scherenk in Theological Dictionary of the New Testament, vol. IV, 187-88.

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