Segundo Abrão (2004, p. 412) Nietzsche[1]
dividia os estágios de nossa civilização em três: camelo, leão e criança. No
primeiro se caracterizou pelo primado da moral e religião no senso de dever,
este, instiga o homem a ser altruísta obediente aos senhores, piedoso, ou seja,
estabelece uma ideologia de domesticação. O segundo, o período do “leão”, é o
momento em que o homem se revolta contra dos os princípios de seu estágio
anterior, não aceita mais a submissão imposta, é um dizer “eu quero” ao invés
de “eu aceito”. E na ultima metamorfose – a da criança – foi sucedido pela
constatação de que o mundo que ora habita é destituído de finalidade (telos),
com isso chegando ao niilismo. Segundo dicionário escolar de filosofia o niilismo:
“Designa a convicção de que a existência e a vida não
têm sentido ou finalidade. O niilista nega que haja princípios morais
aceitáveis. Associa-se o termo a uma concepção radicalmente pessimista que
considera a vida um erro e propõe a negação da vontade de viver. A noção de
niilismo desempenha um papel importante na filosofia de Nietzsche.
O problema central do seu pensamento é como ultrapassar o niilismo. Considera-o
uma interpretação da existência que negou os valores autênticos e a vontade de
viver esta vida por si mesma. Tal interpretação começou, segundo Nietzsche, com
Platão e Sócrates e foi popularizada e reforçada pelo
Cristianismo. A célebre declaração "Deus morreu" é a consequência
lógica do desenvolvimento da metafísica e da moral ocidentais que tornaram Deus
indigno de crença. A morte de Deus torna claro para quem a sabe interpretar que
os valores tradicionais nada valiam e exige a criação de valores que consagrem
o que em seu nome se negou: esta vida e este mundo.”[2]
e está é a umas
da ferramentas epistemológicas pelas quais Nietzsche viabilizará seu projeto de
desconstrução do mundo ocidental e seus valores absolutos. Antes de chegar à
conclusão da morte de Deus, Nietzsche precisa primeiro retroceder ao período da
filosofia clássica, precisa demonstrar a impossibilidade do domínio da razão
proposto Sócrates, Platão e Aristóteles.
Estes seriam os responsáveis pela construção do ideal do ocidente, bem
com fomentadores da religião cristã, que segundo o filósofo seria uma “mancha
imortal” para a humanidade. Ao rejeitar os clássicos é preparado o terreno para
o anuncio da morte de Deus, e de todos os valores absolutos.
A história para Nietzsche pode ser compreendida por meio da apropriação
de dois deuses gregos — a saber: Dionísio e Apolo.
Dionísio era o Deus grego que representava a imagem da força instintiva e
da saúde, sensualidade e a criatividade humana, já o segundo, Apolo
representava a visão de sonho, a moderação a explicação clara das coisas. A
união dessas duas forças se deu por meio da tragédia grega, nela ao poetas e
trovadores expressavam a crueza da vida, porém sem negá-la, era possível
encontrar felicidade, mesmo está sendo tão cheia de obstáculos, vícios e caos.
A filosofia de Nietzsche pode ser considerada um sistema abrangente de
pensamento[3],
na medida em que tenta estabelecer uma nova forma de Ontologia crítica, uma
filosofia imanente, uma análise crítica dos valores. Com a genealogia da moral
o autor busca investigar a origem e desenvolvimento dos valores da sociedade,
demonstrando que os tais, estão interligados aos contextos em que se
desenvolveram, a compreensão dos desdobramentos inerentes a criação e
normatização dos valores expõem a fragilidade que segundo Nietzsche se
encontrava no mundo ocidental cristão, o verdadeiro valor deveria ser
conseqüência a sua utilidade ou não a vida.
Podemos resumir a crítica de Nietsche no seguinte esquema[4]:
Formação do mundo grego:
a)
Dionisíaco: força instintiva e saúde, poder criativo,
paixão sensual, harmonia com a natureza.
b)
Apolíneo: tentativa de explicar as coisas com
moderação, humanidade equilibrada.
Visão da História:
a)
Monumental: busca no passado por paradigmas.
b)
Antiquário: fundamentação do presente no passado,
conservação de valores.
c)
Crítico: julgamento do passado e superação para a transvalorização.
Dois modos de pessimismo:
a)
Romântico: a constatar a realidade renuncia a vida.
b)
Trágico: aceitar a vida mesmo constatando sua
caoticidade.
Duas formas de moral:
a)
Moral dos escravos: ressentimento contra a força, a
saúde, o amor pela vida.
b)
Moral dos senhores: afirmação de si que visa legitimar
a dominação dos fracos.
É claro que a obra da envergadura como a de Nietzsche não pode ser
sintetizada se não perdendo a possibilidade de maiores aprofundamentos e
riquezas de conceitos, muito embora Nietzsche tenha sofrido forte oposição já
em seu tempo, como também posteriormente, sua filosofia busca a originalidade e
compromisso com o mundo onde o homem vive, e dele deve buscar sua fundamentação
existência e reflexiva.
Contudo deve-se reconhecer a importância que sua filosofia representou em
seu tempo, bem como o contexto que foi produzida, somente dessa forma se compreenderá as denúncias que seu sistema filosófico buscou fazer.
Bibliografia
ABRÃO, Bernadette Siqueira.
História da Filosofia. São Paulo. Nova Cultural. 2004.
GEISLER, Norman. Enciclopédia
Apologética. São Paulo. Editora Vida. 2002.
REALE. Giovanni; ANTISERI. Dario.
História da Filosofia vol. 6. São Paulo. Paulus. 2005.
[1]
Filósofo nascido em 15 de outubro de 1844, em Rocken, próximo de Lutzen.
Estudou filologia clássica em Leipzing e aos 25 anos foi chamado para a cádetra
da mesma disciplina na Universidade de Basiléia.
[2]
Disponível em: < http://www.defnarede.com/n.html > acessado em 13/09/2012. No site infoescola consta a seguinte
definição Nietzcheana de niilismo: “Nietzsche
também nutriu sua própria concepção niilista. Para ele este movimento tinha
implicações bem mais vastas e penetrantes. Ele o concebe como uma linha
filosófica entretecida no mundo ocidental, mas que remonta a séculos passados,
embora aspire transformar o futuro.
Seu núcleo ideológico central está
focado, segundo o filósofo, na morte da Divindade Cristã e nos resultados desta
extinção. Deus, aqui, deve ser compreendido não apenas como a imagem de Jesus,
mas especialmente como o universo transcendental, os valores morais, as idéias,
regras, preceitos que dão sustentação a esta esfera situada além da matéria.
O niilismo nietzscheano, assim, não
apenas demole valores já ratificados pela Humanidade, mas visa igualmente
suprir esta ausência com a gestação de outros princípios. O niilismo seria,
então, a fase de transição entre um mundo que se despede e outro que se insinua
na aurora, constituído, este sim, semelhante à Humanidade.” Disponível em: <
http://www.infoescola.com/filosofia/niilismo/ > acessado em: 13/09/2012; O Wikipédia em
uma artigo propõe duas formas de niilismo: 1. passivo. 2. ativo, disponível em:
< http://pt.wikipedia.org/wiki/Niilismo > acessado em: 13/09/2012. Cf também
GEISLER, Norman. Enciclopédia Apologética. São Paulo. Editora Vida. 2002. p
632.
[3]
O Dr. Stefan observou cinco áreas que em a filosofia de Nietzsche se propõe a
investigar: antropologia, epistemologia, moral e pedagogia. Cf KRASTANOV, Stefan Vassilev. Metafísica
II. Batatais, SP: Centro Universitário Claretiano, 2011. p. 109.
[4]
Este esquema é uma adaptação do mapa conceitual formulado por REALE. Geovanni;
ANTISERI. Dario. História da Filosofia vol. 6. São Paulo. Paulus. 2005. p. 16.
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