Hegel propõe um
filosofia que esteja baseada na história, em uma consciência histórica, um
sistema abrangente como notou o Dr. Franklin :
Essa possibilidade de explicar os vários
aspectos da vida individual e coletiva a partir da totalidade e os resultados
altamente sistêmicos assim obtidos conferiam ao pensamento hegeliano pelo menos
a aparência de uma filosofia definitiva, satisfazendo aquilo que sempre havia
sido o grande anseio da tradição. Por outro lado, esse sentimento de segurança
transmitido pela organização do saber e da história proposta por Hegel estava
estreitamente associado a uma espécie de justificação do presente, em todos os
seus aspectos, inclusive morais e políticos, já que o presente é o resultado
necessário do processo de auto-revelação do Espírito.[1]
Em sua obra Fenomenologia do Espírito, Hegel propõe um processo de
conscientização do individuo enquanto ser histórico, tal desenvolvimento é
gradativo e se estabelece na medida em que o escravo vai se tornando consciente
de si no mundo, na medida em que os fenômenos se tornam percebíveis e apreendidos,
esse individuo passa de um estado de escravo, ou, seja de um ser totalmente
dependente de outro e vai tornando-se senhor de si, não há mais separação entre
sujeito e objeto, tal separação é provisória, a integração ao todo é a
afirmação do absoluto como identidade.
É por meio das manifestações culturais, tais como arte, ciência, religião
e filosofia que o espírito vai se autoconcebendo, caberia a filosofia
estabelecer em fim o principio da racionalidade em que se manifestaria a total
realização do homem. Hegel propõe 3 divisões para o Espírito:
I.
Espírito subjetivo: trata de temas como Antropologia e
Psicologia.
II.
Espírito objetivo: trata de questões sobre filosofia do
direito, filosofia moral, política e história.
Hegel sai da tradição de análise sujeito-objeto para uma compreensão do
ser humano como inserido na história, é um método original, já que não existe
mais afirmação de certo modo, do individual e sim do coletivo. A identidade
individual só existe quando inserida no todo, na história que sempre é
coletiva, é uma identidade orgânica. Por esse viés fortalece extremamente a noção
de estado, sendo este o responsável por proporcionar uma identidade ao
indivíduo.
O que se pode concluir com Hegel é a importância do individuo como
protagonista da história, de sua inserção orgânica na sociedade, não como um
ente distinto como na relação sujeito-objeto, mas pertencente a ela, de modo
que sua real existência só pode ser afirmada por essa inserção.
Os jovens hegelianos, conhecidos
pela sua fundamentação em Hegel para a promoção da esquerda, foram importantes
e se dividiam em duas classes, os de esquerda que buscavam desfazer-se de toda
herança teológica nos escritos de Hegel e se utilizando da dialética para um
processo de negação como postura crítica da realidade, os hegelianos de direita conservam o Espírito
absoluto proposto por seu mestre, a razão e o real na dialética que unificava
tudo nesse Espírito. (ABRÃO, 2004. p. 373)
Marx como seu contemporâneo absorve o conceito de historicidade dinâmica,
onde as opostos estão em constante interação produzindo novos acontecimentos,
com isso a uma dialética em constate movimento e transformação. E rompeu com
Hegel ao compreender que o princípio da história é o mundo material, a ação do
homem no mundo que lhe dá significado, e não um Espírito Absoluto.
Em Feuerbach a concepção de um Espírito Absoluto resultou em uma negação
contundente da religião, segundo Feuerbach as idéias religiosas não se passavam
de fugas da realidade de modo que o homem pudesse se ausentar da
responsabilidade diante do mundo, uma forma de alienação intelectual.
Marcuse[3]
segue a interpretação de que Feuerbach conserva algum fundamento de Hegel em
sua filosofia:
[...] por exemplo, ao situar o pensamento
feuerbachiano no contexto da filosofia alemã, em seu clássico Razão e
Revolução, parte do princípio de que Feuerbach permanece no âmbito da reflexão
hegeliana ao propor A Filosofia do Futuro, pois, tal como Hegel, concebe que a
humanidade alcançou a maturidade para efetivar sua emancipação. Por isso, diz
que a filosofia de Feuerbach busca a efetivação lógica e histórica da filosofia
de Hegel: “A nova filosofia é a realização da filosofia hegeliana, e mais, de
toda a filosofia anterior” . Nesse caso, Hegel transformou a teologia em lógica
e Feuerbach transformou a lógica em antropologia.
A crítica de Feuerbach a religião diferentemente de Marx é quanto sua
autenticidade e não sobre sua utilidade, na perspectiva de Feuerbach a religião
possui um papel importante no equilíbrio e desenvolvimento da sociedade, possui
uma utilidade sociológica na manutenção do indivíduo.
A herança na esquerda do século 19 é caracterizada pela simbiose entre a
forte crítica de Marx as concepções transcendentais e de Feuerbach marcando
passo contra a religião enquanto alienadora do homem. Com isso a esquerda se
construirá com um forte apelo ao homem por uma versão de paraíso materialista e
uma religião que no máximo será imanente e cumpridora de um papel apaziguador dos temores humanos, mantendo a sociedade em equilíbrio.
Bibliografia
ABRÃO, Bernadette Siqueira. A História
da Filosofia. São Paulo. Nova Cultural. 2004.
[1]
Disponível em: SILVA, Franklin Leopoldo. Esquerda Hegeliana < http://www.filosofia.fflch.usp.br/pt-br/content/esquerda-hegeliana > acessado em 23/03/2012.
[2]
Disponível em : < http://www.hegel.net/en/spirit.htm >
acessado em 25/03/2012.
[3]
SARTÓRIO, Lucia Aparecida. A antropologia de Feuerbach. Disponível em < https://docs.google.com/viewer?a=v&q=cache:IesXq1fR5BcJ:download.tales.com.br/marxismo/Verinotio/L%25C3%25BAcia%2520Aparecida%2520Valadares%2520Sart%25C3%25B3rio%2520-%2520A%2520antropologia%2520de%2520Feuerbach.pdf+sintese+das+influencias+de+hegel+sobre+feuerbach&hl=pt-BR&gl=br&pid=bl&srcid=ADGEEShWmPWd2hT5vzhKizsVPGV2dWOx8pypFvs4XCS3sJa85E1O2Kpe6qXHUHOFEGG76Ej4yGy3_VtaGGrZSejWveha2lU-27TezM9li_OjPhqrRjHyoHmc1OYzvadvPNMoXm0s3-Xa&sig=AHIEtbTr_uqi83KsBl5A9cJPrRbec7tb7w >
acessado em 25/03/2012.
Olá, Douglas, não consigo acessar uma de suas referências, no caso a do Franklin Leopoldo e Silva. Esquerda "hegeliana". Você teria essa referência em outro local?
ResponderExcluirInfelizmente não. Tentei buscar o artigo, mas não parece não estar mais disponível.
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